sexta-feira, 19 de maio de 2017

19 maio :: 1 ano


há um ano a minha vida mudou para sempre.

querido pai, se soubesses a saudades que eu tenho tuas.
da tua voz do outro lado da linha num qualquer país distante e com falhas de rede, da maneira como falavas com os teus netos, o tom de voz feliz que usavas para os fazer rir. 
as tuas mãos. consigo ver as tuas mãos tão bem, como se lhes tivesse pegado ontem.
sento-me no teu lugar à mesa, na casa que foi tua, porque assumi para mim esse lugar que ninguém quis ocupar, por medo e tremo de cada vez que o faço.
ainda não consegui ir à casa do alentejo, que sei ser o teu sonho.

mas passou um ano e fomos à comporta, a tua praia preferida e onde, ao largo, repousas.

é dura, muito dura a tua ausência. e eu estou triste porque não a resolvi, porque não arrumei as ideias nas gavetas certas e porque (ainda) não chorei a tua perda. fico zangada porque não estás a um telefonema de distância. fico zangada por ser dona legítima de três casas, fico zangada por ter dinheiro no banco e fico zangada por não conseguir ouvir esta música da adele

não quero nada disto, quero apenas pegar no telefone e saber que vais atender do outro lado. 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

moedinha nº1



«... tenho ideia que num primeiro filhos nós somos sempre piores pais.»

esta entrevista, que adorei ler, deu-me que pensar em relação à minha moedinha nº1.
este miúdo giro que me tira do sério como ninguém, que me faz ser melhor e menos boa, que leva comigo e me atura o mau humor só porque está ali mesmo ao lado e o pai está fora muitas vezes.
este meu amor primeiro e enorme.
e tudo o que ele quer é colo: 'sabes, mãe, podemos fazer como naquela outra noite em que me deste colinho?', perguntou ele ontem, referindo-se à noite anterior em que o deixei ficar mais de meia hora sentado ao meu colo enquanto estava sentada no chão, à beira da cama do irmão para o adormecer. é isto. só isto. colo.
que não estraga, eu já sabia. que não é demais, eu já acreditava pela quantidade de mimo e amor que lhes dou, pelas nódoas na roupa, pelas pedras e areia que trazem nos sapatos, pela facilidade com que se entregam às poças de chuva e de lama e agarram aos paus.

és feliz, tenho a certeza.
e eu contribuo para isso e, mais importante, faço parte disso. não me posso esquecer disto. 


terça-feira, 2 de maio de 2017

tirada #20

francisco ao meu colo, a ver atentamente os sinais do peito e dos braços:
- 'qué ito?'
- são sinais...
- bolinhas...
- sim.
- como o 'leopádo'.
- achas que a mãe é um leopardo? (e faço uma cara provocadora.)
- nah...
e sorri decidido.
- a mãe é uma 'caba'! (aka cabra)
e faz o sorriso mais malandro de sempre.

ps: isto tem um enquadramento - a história das três cabras, a grande, a média e a pequena, que querem atravessar uma ponte onde está um troll.