quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

o cheiro dos bebés

quando estamos grávidas e começamos a falar do assunto com outras mães há um assunto que vem sempre à baila: o cheiro dos bebés.
todas, sem excepção, deliram com o cheiro dos bebés recém-nascidos ou mesmo dos bebés em geral. todas falam do cheiro suave e quente da pele de bebé, do bafo leitoso que se sente quando se encosta o nariz junto à boca deles, do aroma adocicado nos refegos das pernas ou na curva especial do pescoço. e quando se pega num bebé que acabou de tomar banho? ui, então aí o mulherio derrete-se em suspiros e até sente fraqueza nas pernas. Sim, o cheiro dos bebés é bestial e devia vender-se em frasquinhos para podermos snifar sempre que nos apetecesse... 

isto se os bebés de que estamos a falar não forem os meus bebés. 
como saberão o cocó dos bebés recém-nascidos não tem propriamente cheiro e as quantidades de xixi são tão pequenas que ainda permitem que o dito fique devidamente retido nas fraldas. a crosta láctea nestas minhas criaturas é inexistente por isso também não temos cheiro vindo daí. a roupa deles cheira sempre bem, obrigada amaciador, e a chucha é pouco usada por isso também não acumula cheiros. ainda não usam aqueles bonecos dos quais nunca se separam e que são como um terceiro braço, por isso também não levamos com o cheiro estagnado de um peluche que já foi fofinho e novo e agora é encardido e amorfo. do que é que eu estou a falar, então?

do cheiro a bolçado.
esse cheiro meio azedo, meio fresco, que os meus filhos teimam em manter durante o(s) primeiro(s) mese(s). os gaiatos mamam muito bem, aliás, nasceram ensinados e sempre correu tudo bem no que toca à amamentação, no sentido lato de alimentação e garantia de sobrevivência de um ser vivo minúsculo. estou muito grata por isso. o que me aborrece, não, é mais forte que um aborrecimento, o que me chateia mesmo, que me lixa o juízo e me consome os neurónios é a reacção automática que eles têm assim que são colocados a arrotar após a mamada e que é deitar cá para fora todo o leite que estiveram a sacar da mãe. 

vá, eu sei que não é toooodo o leite, até porque se assim fosse não cresciam a olhos vistos e também sei que é normal isto acontecer dada a imaturidade da válvula que regula a entrada do estômago, a cárdia, e que impede que a comida volte para a boca. também sei que uma pequena colher de café cheia e derramada numa toalha faz estragos, sim, já fiz este teste recomendado pelos pediatras para perceber que a quantidade de leite bolçada pode ser uma ilusão de óptica. e antes que perguntem, sim, já verifiquei que a pega e a posição de amamentar estão correctas e dormem numa cama inclinada.

não sei porque é que isto acontece, sei que vai melhorando com os dias, vá, com as semanas e meses, mas que fico com nervos fico. é roupa molhada, é babete ensopado, é mais uma fralda para lavar e é, muitas vezes, um fio de leite a escorrer pelo meu peito até à barriga. o que é sempre agradável, principalmente no inverno! quem te manda ter filhos no inverno, pá?

eu até gosto de natas azedas e de queijo fresco (que é como o pai chama ao bolçado mais denso que às vezes aparece), mas prefiro tê-los no meu prato e não na minha roupa! e gostava muito de puder cheirar os meus filhos à vontade, com aquele ar enamorado e derretido, sempre que me apetecesse, sem me deparar com um pijama húmido ou um babete cheio de manchas amarelas. 

os putos até são fixes, dormem bem, comem bem e são calminhos, mas podiam ter esta cena controlada para a mãe puder sacar-lhes o cheirinho bom a toda a hora e o pai, que nem gosta de queijo, gostar de os pegar ao colo. 

(texto enviado para o blog a mãe é que sabe, numa tentativa maluca de o ver publicado)