segunda-feira, 24 de agosto de 2015

2 ou 3

após o nascimento do francisco, ainda na maternidade, uma das enfermeiras perguntou quando é que tinhamos a menina, como que a assumir que estavámos desgostosos por ter o segundo rapaz. erro número um! eu estava (e estou) feliz da vida por ter dois rapazes.
ainda hoje sempre que digo que tenho dois rapazes dizem prontamente 'a seguir vem a menina', sabem lá eles o que nós queremos.
por outro lado, por muito bem que o parto tenha corrido bem, e este correu mais que bem, não se fazem perguntas destas quando ainda estamos em fase de apaixonamento, quando ainda estamos a cair da lua e a perceber que sim, temos um bebé novo nos braços. erro número dois.

independemente disto, piadas à parte, dizia, quase sempre por brincadeira, que gostava de ter três rapazes. claramente por influência da minha mãe, que tem três filhos e da minha tia, que teve três filhos também, três rapazes. foi o número de filhos com que cresci, o número de crianças a que me habituei e com o qual a minha família é o que é hoje. somos seis adultos unidos, muito unidos, seis primos-irmãos. 
depois nunca gostei de números pares. não sei explicar, mas sempre tive tendência para desempatar as coisas, de achar que pares são certinhos de mais e eu queria era ser rebelde e não ter o equilíbrio das coisas que se podem dividir em partes iguais. 
se pensasse em apenas dois filhos, seriam sempre dois rapazes. a ideia de ter um rapaz e uma rapariga, o típico, estereotipado e desejado casalinho, fazia-me deitar a língua de fora. 

fui crescendo e fui mantendo estas ideias. em relação a nomes só tinha a certeza que teria um filho joão.

hoje tenho dois filhos. um joão. um francisco. que engraçado. nunca pensei ter um filho chamado francisco, apesar de só querer rapazes...

hoje continuo a ter a certeza que quero outro filho. rapaz ou rapariga tanto faz. 
mas às vezes penso que o francisco é o meu último bebé, que é o último gordinho da minha vida, que não vou estar grávida novamente, ver a barriga crescer, que não vou ter outro parto, que não vou sentir esta paixão assolapada por um mini-ser novamente. e quando estes pensamentos ocorrem, a minha reacção é mandá-los para trás rapidamente, recusá-los, não deixar que se enraizem. porque, na minha cabeça, não consigo conceber o fim deste ciclo que é engravidar e ter um bebé, não consigo assumir que a nossa família pode ficar por aqui, neste número quatro. porque, na minha cabeça, sinto que serei mãe de três. sinto-o e quero-o, muito. 

há dias em que tenho a certeza que terei outro filho e fico serena nessa certeza. noutros dias, mais fechados e cinzentos, já não tenho essa certeza. saber que o pai também gosta desta ideia louca, dá-me esperança. respiro fundo e penso 'calma, é um bebé de cada vez. agora tenho este'. estas palavras dão-me algum oxigénio.

nas últimas semanas estas ideias têm sido mais recorrentes e sei que é porque o francisco está a crescer, a fazer-se à vida. já não é bebé-bebé, já se senta e quase gatinha. não tarda deixa de mamar e aí, sim, corta-se o último elo de bebé. 
a biologia é tramada.